Durante sessão da CPMI do 8 de janeiro, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) comparou as prisões de golpistas que invadiram e depredaram os prédios dos três Poderes ao Holocausto, genocídio realizado pela Alemanha nazista que exterminou mais de 6 milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Nesta terça-feira, os deputados e senadores ouviram o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) de Jair Bolsonaro, Augusto Heleno.
— As prisões de milhares de pessoas nos dias 8 e 9 de janeiro foram feitas nos moldes nazistas — afirmou o senador, que é primogênito do ex-presidente. — (Na época do Holocausto) a gente via pessoas com medo, querendo fugir do nazismo e sendo direcionadas para estações de trem de forma pacífica, com a falsa promessa que iriam entrar em um trem e fugir do regime, mas enquanto estavam nas estações, eram ligadas as câmaras de gás e as pessoas morriam aos milhares. Muito parecido com o que aconteceu aqui nos dias 8 e 9 de janeiro.
A fala do senador ocorreu durante oitiva de Heleno na CPI mista do 8 de janeiro, nesta terça-feira. O ex-ministro de Bolsonaro foi ouvido pelos parlamentares por mais de oito horas, em que chegou a responder alguns questionamentos do colegiado, apesar de ter recebido autorização para permanecer em silêncio, decisão tomada pelo ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Durante a sessão, o ex-GSI reclamou de questionamentos da relatora, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), com palavrões e silenciou quando questionado sobre participação em suposta reunião realizada por Bolsonaro com o hacker Walter Delgatti Neto para discutir uma tentativa de invasão ao sistema eleitoral.
Ainda respondendo questionamentos do colegiado, Heleno afirmou se tratar de uma “fantasia” que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, participasse de reuniões de Bolsonaro com os comandantes das Forças Armadas. A afirmação, no entanto, foi desmentida durante a sessão por foto oficial da Presidência resgatada pela relatora, em que Cid aparece ao lado do ex-GSI.
Instituto Brasil-Israel repudia comparação de Flávio Bolsonaro
Após o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ter comparado, durante a CPI do 8 de janeiro, os presos nas manifestações antidemocráticas com as vítimas do Holocausto, o Instituto Brasil-Israel emitiu uma nota de repúdio. Em posicionamento, a entidade afirmou que a declaração do parlamentar banaliza a tortura sofrida durante a Segunda Guerra Mundial e classificou o ocorrido como mais uma “distorção que fere a memória das vítimas”.
“Flávio decide entrar em resoluções assustadoras, sendo desrespeitoso e ofensivo com a memória”, diz trecho da nota. Entre os anos de 1933 a 1945, o Holocausto realizado pela Alemanha nazista mais de 6 milhões de judeus.
O Instituto afirma ainda que há diferenças claras entre os presos do 8 de janeiro e as vítimas do Holocausto, já que o segundo grupo não praticou crime algum e foi exterminado em “razão de sua identidade religiosa, nacional, sexual ou política”.
A fala foi criticada por outras personalidades da sociedade civil. O ex-deputado Jean Wyllys (PT) afirmou que o filho do ex-presidente desrespeitou a comunidade judaica ao comparar vítimas a um “um bando de siderados golpistas e violentos”.
Leia a nota na íntegra
A declaração feita hoje por Flávio Bolsonaro em que compara vítimas do Holocausto aos depredadores de Brasília é um caso clássico de banalização do Holocausto.
Flávio decide entrar em resoluções assustadoras, sendo desrespeitoso e ofensivo com a memória.
Ao contrário dos detidos e presos por crimes em Brasília, as vítimas dos nazistas não cometeram crime algum, e foram exterminadas em razão de sua identidade religiosa, nacional, sexual ou política.
Por fim, Flávio Bolsonaro afirma ter visitado o Museu do Holocausto em Jerusalém, o que o legitimaria a fazer tais comentários. Mais uma distorção negacionista que fere a memória das vítimas.
Fonte: Agência O Globo/Folha de PE
Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado
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